"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já..."
(Pablo Neruda)
22 de março de 2007. Uma bela manhã de terça-feira de outono, inclusive, ensolarada mas não muito quente. Aula de português, lembro-me bem. Estava bastante inquieta, ouvindo músicas e mais músicas aleatoriamente, então, começo a observar a janela que havia na porta da minha sala e vejo algumas pessoas do HC passando em direção à frente do colégio. De início, achei um tanto diferente mas, como não foquei minha atenção nelas, logo meu pensamento viajou para outro assunto que não lembro bem.é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já..."
(Pablo Neruda)
Toca o sinal. E, costumeiramente, todas as meninas saíram das salas e foram para o pátio conversar enquanto esperavam agitadas o próximo horário. Eu e mais umas duas ou três colegas sentamos na mesa mais próxima a sala. Eu, escutando música e pensando no intervalo que se aproximava, e elas, conversando sobre qualquer assunto. Então, vejo, mais uma vez, um grupinho de pessoas do HC passando e, pela primeira vez, reparo nos rostos fechados de alguns deles.
De início, confesso, não dei muita atenção a esse novo grupinho que havia surgido de repente. Até que eles começaram a conversar com as meninas da sala ao lado da minha e essas começaram a ficar mais sérias e com um rosto mais apreensivo. Então, mais tomada pela curiosidade do que pelo interesse no porquê das meninas terem ficado assim, me aproximei de uma colega minha, que estava conversando com as pessoas do HC, e, super curiosa, pergunto:
- O que foi que aconteceu?
Parecendo surpresa com minha presença, ela responde:
- Faleceu um menino do HC hoje, pela manhã, Gaby - Com sutileza de quem quer esconder algo. Então, insisto no assunto.
- Sério? Quem foi?
Ela me diz uma informação a cada pergunta minha. Foi um menino do HC, do basquete, o nome era João Victor. Eu, com o coração na mão e, de fato, não querendo acreditar que era o meu João Victor, então, perguntei:
- Qual João Victor? - Perguntei. E, no mesmo momento, já estava a sentir o sabor salgado de lágrimas subindo pela minha garganta. E, em menos de 30 segundos, ouço a resposta com uma mão de minha colega em meu ombro:
- Quem faleceu foi Victinho, Gaby.
Não sei se naquele momento tive a impressão de que o dia tornou-se mais preto e branco, diferente do colorido do começo da manhã, se passei mais do que 30 segundos sem respirar com o coração parado, se havia sentido mais do que um pedaço de mim ser arrancado feroz e rapidamente, se senti o momento se congelar, como em um filme, ou se foi o misto de tudo isso.
Não consegui encontrar palavras para responder minha interlocutora e minha única resposta foi o silêncio. E, depois, as lágrimas que correram rápida e silenciosamente pelo meu rosto. Passei muito tempo para conte-las e, até hoje, não consegui esquecer essa cena ou esse dia. Em menos de 24h, havia perdido não só uma pessoa importante, para mim, como um grande amigo de pequenos e grandes momentos. E a coisa que mais me conforta, nos momentos em que a saudade aperta mais do que posso aguentar sem chorar, é que sei que, um dia, nos encontraremos.